O Vestido Lilás de Márcia
O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração. 1 Samuel 16:7
Márcia observava enquanto sua avó costurava os babados na barra do vestido de tafetá lilás. Estava encantada com a aparência lustrosa do tecido e com o ruído que ele produzia.
– Quem dera que fosse novo! – suspirou a avó. – Cortei um dos meus vestidos velhos para fazê-lo.
– Mas é lindo! – exclamou Márcia. – Vou parecer uma estrela de cinema no domingo!
– A roupa não é tudo! – admoestou vovó. – É melhor você estudar sua parte para o programa!
Mas durante alguns dias, tudo o que ocupava o pensamento de Márcia era o maravilhoso vestido lilás com os babados. “As outras garotas vão querer ser minhas amigas quando virem meu vestido novo”, pensava ela.
Márcia imaginava as pessoas aglomerando-se ao seu redor após o programa para dizer: “Márcia, como você está linda!”
Quando o domingo chegou, entretanto, o vestido não produziu a mágica que Márcia havia previsto. As meninas davam risadinhas por causa do ruído que o vestido fazia, enquanto Márcia se esgueirava entre elas para apresentar sua parte. Sentiu a igreja cheia de olhares que se fixavam em suas pernas finas e no vestido da senhora idosa que havia sido cortado. Seus joelhos tremeram, e as mãos ficaram frias e suadas.
– Eu não vim para ficar… para ficar… para ficar…
Márcia sentiu um vazio na memória. Seu rosto ardia, e ela não conseguia lembrar-se do restante da frase. Seus olhos procuraram os da esposa do pastor. Ela não estava rindo. “Só vim para dizer que é Domingo da Páscoa”, ajudou a esposa do pastor.
Márcia repetiu as palavras com uma voz que não passava de sussurro e depois saiu em disparada da plataforma, passando pelas meninas que riam. Envergonhada, não parou enquanto não chegou a sua casa.
À semelhança de Márcia, geralmente damos valor exagerado às roupas. Conhecemos a verdade, mas ainda assim invejamos alguém que parece ter saído de uma revista de modas. Por isso mesmo, podemos estar deixando de conhecer pessoas realmente encantadoras, só porque elas parecem estar vestindo algo tirado da prateleira da assistência social.